Por meio de incentivos, a empresa quer dobrar a produção total de leite orgânico no país.
Atualmente, a demanda por leite orgânico é maior que a disponibilidade, por isso, para estimular a produção, a empresa enfrentou alguns desafios. O primeiro e maior deles foi encontrar produtores de leite orgânico disponíveis para fazer a conversão da produção convencional para a orgânica, que leva um período de cerca de 24 meses -, sendo 1 ano para a recuperação do solo e vegetação, 6 meses para o animal e 18 meses para a certificação. Durante este período o produtor que está se adequando acaba ficando com custos maiores.
Para se tornar orgânico, o produtor precisa ser auditado e certificado. Neste caso, a companhia trabalha com a certificação do IBD, que além de participar de toda a conversão, juntamente com a Embrapa, também verifica se as normas estão sendo cumpridas de acordo com a Lei Brasileira para Produção Orgânica Agropecuária. Segundo Alexandre Harkay, da IBD Certificações, atualmente o Brasil já possui 34 fazendas orgânicas certificadas.

Foto: Divulgação
Programa Balde Cheio – Embrapa
Para qualificar a cadeia, a Nestlé também subsidia a assistência técnica aos produtores, que é feita pela Embrapa, através do programa Balde Cheio, um projeto de transferência de tecnologia que promove o avanço da pecuária leiteira e contribui para tornar as pequenas propriedades sustentáveis e mais rentáveis.
De acordo com o pesquisador Artur Chinelato, o desafio maior é substituir métodos tradicionais, como as adubações químicas, por compostos orgânicos e os medicamentos alopáticos por fitoterápicos ou homeopáticos, mantendo a alta produtividade. O bem-estar dos animais também deve ser uma preocupação constante do produtor orgânico.
Os bons resultados servem de incentivo para produtores orgânicos, como Junior Saldanha, de São Carlos (SP). Certificado há um ano, o agricultor tem conseguido lucro com o leite orgânico. A produção diária atual é de 750 litros, mas a previsão para o próximo ano é de mil litros/dia. Após se tornar orgânico, o produtor diminuiu os gastos com o fornecimento de suplementação e melhorou a disponibilidade de pasto.

Junior Saldanha está no processo de conversão de sua propriedade em Itirapina, interior de São Paulo | Foto: Mayra Rosa/CicloVivo
O desafio das sementes
Outra questão que a empresa encontrou pelo caminho, foi a dificuldade dos produtores para fazer a suplementação alimentar dos animais. O pecuarista não pode usar milho ou soja transgênica. No entanto, estas sementes são mais caras e difíceis de serem encontradas.
Por isso, a Nestlé também investiu na consultoria da Fundação Motiki Okada para seus produtores. A fundação trabalha, entre outras coisas, com pesquisas de desenvolvimento de sementes orgânicas, por meio da seleção, melhoramento e multiplicação das mesmas.
“É um desafio a produção de grãos orgânicos, não tem uma solução simples”, disse Luiz Carlos Demattê, diretor do Centro de Pesquisas Motiki Okada. Segundo ele, a própria estrutura de materiais genéticos já é uma forma de controle. A produção de milho e soja orgânica, por exemplo, por não passarem pelo processo de fumegação por inseticidas e larvicidas, dependem de uma cadeia de suprimentos mais adequada, não podendo ser estocada por muito tempo. O diretor vê a união de produtores, agricultores e empresas do setor como uma saída para resolver a questão, assim já se produz por demanda com venda garantida e entrega imediata.
Atualmente, 11 produtores foram contratados por 36 meses pela Nestlé. No total, 50 produtores gostariam de entrar no projeto, porém a maioria de suas propriedades não estão aptas para a produção orgânica devido suas localizações e estruturas. Muitos podem sofrer contaminações de fazendas vizinhas ou até mesmo aérea, feitas por aviões que espalham inseticidas nas redondezas.
Mayra Rosa viajou a convite da Nestlé para São Carlos, Itirapina e Ipeúna.
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