Por Christiano Nascif
Zootecnista. Mestre em Produção de Ruminantes pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Sócio-proprietário da empresa Labor Rural. Coordenador técnico do Programa PDPL-PCEPL/UFV). Consultor do Sebrae Minas.
Os gastos com a mão de obra contratada para o trabalho em toda atividade leiteira representam um custo de R$ 0,15 a R$ 0,20 por litro de leite produzido, isto em propriedades minimamente eficientes. Em média, os gastos com mão de obra comprometem 15% da renda bruta da atividade leiteira, ou seja, de um faturamento de R$ 50.000 por mês com a atividade, R$ 7.500 deverão ser destinados para o pagamento dos funcionários que atuam na atividade leiteira.
Os gastos com a mão de obra contratada representam o segundo item que mais pesa na composição do custo de produção de leite, perdendo somente para os gastos com concentrado. Daí a necessidade da eficiência na utilização da mão de obra para se obter sucesso na atividade leiteira. Faremos uma análise econômica, mesmo com a dificuldade em contratar mão de obra qualificada para trabalhar nas propriedades leiteiras. Esta é uma realidade brasileira, entretanto, caminhos para solucionar esse problema poderão ser discutidos em outros momentos.
Eficiência é produzir mais e melhor com menos, o que consiste em uma das maneiras para alcançar maior sustentabilidade na atividade leiteira. À medida em que aumentam os gastos com a mão de obra, você deve buscar formas de melhorar a sua eficiência para compensar o aumento do seu custo. Para isto, qual o melhor caminho para o produtor? Será a produtividade das vacas em lactação (l/vl/d) ou a relação do número de vacas em lactação por funcionário (vl/d.h)? A multiplicação de uma variável pela outra resulta na produtividade da mão de obra, em l/d.h.
Ao analisar 200 fazendas participantes do Projeto Educampo Leite, fruto de uma parceria entre o Sebrae, agroindústrias e cooperativas de laticínios em todo o estado de Minas Gerais, encontra-se alguns indicadores que podem auxiliar na resposta à pergunta acima. Lembre-se de que os indicadores econômicos foram deflacionados pelo IGP-DI de julho de 2016, e de que os resultados foram comparados com os das mesmas 200 fazendas, nos anos de 2015/2016 com 2011/2012.
Em 2011/2012, essas fazendas tinham, em média, 3,35 funcionários na atividade leiteira (h/dia); produziram 1.214 l/dia; com uma produtividade das vacas em lactação (l/v.l/dia) de 16,14 l/dia e uma relação de 22,47 vacas em lactação por funcionário (l/d.h). A produtividade da mão de obra foi 362 l/d.h. Já no período 2015/2016, alcançaram os seguintes indicadores: 3,91 h/dia; 1.604 l/dia; 17,76 l/vl/d; 23,06 vl/h e 410 l/d.h, respectivamente. A evolução de cada indicador, quando se compara os dados obtidos no biênio 2015/2016 com os do biênio 2011/2012 foi de: 15,7% para o número de funcionários por fazenda; 32% para o volume de leite produzido por dia por fazenda; 10% para produtividade das vacas em lactação; 2,5% para a relação vacas em lactação por funcionários e 13% para a produtividade de mão de obra, medida em l/d.h.
Em 2011/2012, as 200 fazendas analisadas gastaram, para pagar a mão de obra, R$ 66.000/ano, com um custo de R$ 0,13 dessa mão de obra por litro de leite produzido. Já em 2015/2016, gastaram R$ 91.067/ano, perfazendo um custo de R$ 0,14/litro. Através da evolução destes indicadores constatamos que os gastos com mão de obra aumentaram 38% e o custo de mão de obra por litro aumentou em 7,6%. Nota-se que o custo por litro aumentou bem menos do que os gastos totais com a mão de obra, pois estes foram diluídos pelo aumento de 32% no volume de leite produzido nas fazendas.
Entretanto, a eficiência da mão de obra utilizada nessas fazendas não aumentou proporcionalmente aos seus gastos: enquanto os gastos para pagar a mão de obra aumentaram em 32%, a produtividade da mão de obra aumentou em 13%.
Sendo assim, ocorreu um desequilíbrio. É necessário identificar onde está o maior desafio para estes produtores de leite, com o objetivo de melhorar a produtividade da mão de obra. Estará na produtividade das vacas ou na relação vl/h?
Para compensar os R$ 25.066,70/ano gastos a mais para pagar a mão de obra, a produtividade deveria ter aumentado em 51 l/d.h, quando se compara os períodos 2015/2016 com 2011/2012. Porém, na realidade aumentou 47 l/d.h, 4 l/d.h a menos do que o necessário para atingir seu ponto de nivelamento. Mas o indicador vilão, que não contribuiu para que a eficiência aumentasse o necessário, foi a relação vl/d.h. Enquanto a produtividade das vacas tinha como meta um aumento de 1,51 l/dia, alcançou uma evolução de 1,62 l/dia, superando em 7% o objetivo. Já a relação vacas em lactação/funcionário obteve um desempenho muito aquém do desejado: o necessário era aumentar 2,86 vl/d.h, mas o aumento foi de somente 0,59 vl/d.h, ou seja, -80% abaixo da meta.
Para que esses 200 produtores alcancem o equilíbrio técnico e econômico na exploração eficiente da mão de obra empregada na atividade leiteira, as ações futuras deverão priorizar resultados positivos bem maiores no quesito vl/d.h do que l/vl/dia, pois esta será a alternativa mais viável para aumentar a produtividade da mão de obra (l/d.h), equilibrando melhor as relações entre seus gastos e custos com as receitas da atividade leiteira.
Mas será que o resultado encontrado constitui-se numa tendência ou numa especificidade do grupo de fazendas analisadas?
Ao analisar-se 500 fazendas participantes do Educampo Leite, distribuídas por todo o estado de Minas Gerais, independente do sistema de produção adotado, foi verificado que enquanto a produtividade de leite das vacas em lactação influencia em 30% o resultado da produtividade da mão de obra, a relação vl/d.h tem o poder de influenciar em 55% o mesmo indicador, ou seja, quase o dobro da força de influência.
Ratifica-se que aumentar a produtividade da mão de obra das fazendas é condição determinante para o sucesso técnico e econômico da atividade leiteira. Para isto, o caminho mais curto, e melhor, passa necessariamente pelo aumento da relação vl/d.h, mais do que pelo aumento da produtividade das vacas.
Esses resultados revelam que, ao longo do tempo, houve um descompasso entre a evolução técnica nos itens alimentação, manejo e genética do rebanho para produzir mais leite por vaca, pois este melhorou muito mais do que o equilíbrio da estrutura do rebanho. Na maioria das vezes, a atividade leiteira é composta por muitos animais gerando despesa e poucos gerando receita. A receita está ligada diretamente ao número médio de vacas em lactação em relação ao rebanho total. Para este indicador, o mínimo deve ser de 40%, sendo o ideal, em um rebanho estabilizado, 55% de vacas em lactação/total do rebanho.
Enfim, para equilibrar essas forças, nosso grande desafio consiste em equacionar os problemas reprodutivos do rebanho e de manejo, nas fases de cria e recria. Ou seja, as estratégias devem priorizar a atividade leiteira como um todo e não somente a produção de leite.
Fonte: Revista Produtor Itambé - Outubro 2016
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